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“Uma palavra estranha”: Gongfu e os princípios tradicionais da eficácia chinesa
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Palavras-chave

Tradição
Artes marciais
Pensamento estratégico
Implícito pedagógico

Como Citar

BAPTISTA, Daniel de Oliveira. “Uma palavra estranha”: Gongfu e os princípios tradicionais da eficácia chinesa. Seminário Pesquisar China Contemporânea, Campinas, SP, n. 8, p. e024012, 2024. Disponível em: https://econtents.sbu.unicamp.br/eventos/index.php/chinabrasil/article/view/11847. Acesso em: 6 nov. 2025.

Resumo

Em uma entrevista datada de 2005, um monge do Templo Shaolin – monastério budista chinês conhecido internacionalmente pela prática e preservação de distintas artes marciais chinesas –, abordou sobre um mal-entendido muito comum no que concerne a tais práticas: muitas pessoas possuem a ideia equivocada de que artes marciais diriam respeito, apenas, a combates e/ou mortes. Na verdade, segundo esse monge, as artes marciais falariam mais sobre o autodesenvolvimento da sabedoria e inteligência de seus praticantes do que, necessariamente, sobre conflitos físicos ou corporais em si mesmos. Foi partindo dessa entrevista que o Professor de Filosofia da Grand Valley State University, Peimin Nin, escreveu um breve artigo para a coluna “Opinionator”, do jornal “The New York Times”, intitulado “Kung Fu para Filósofos”, em 08/10/2010. Nesse artigo o Professor Peimin Nin descreveu o Gongfu – popularmente conhecido como Kung Fu –, enquanto uma habilidade resultante do desenvolvimento ou cultivo de uma prática comum qualquer, existindo, desse modo, distintos tipos de Kung Fu: o da dança, da pintura, da culinária, da escrita, da atuação e até do ato de governar. Em seu artigo, Nin ainda ressalta que, durante as dinastias chinesas Song e Ming, o termo Kung Fu teria sido amplamente utilizado por diferentes tradições de pensamento – como o Confucionismo, o Taoísmo e o Budismo –, de modo a todas essas correntes filosóficas caracterizarem seus ensinamentos enquanto distintas “escolas de Kung Fu”. John Fusco, criador da série Marco Polo – que foi ao ar, em 2014, na plataforma de streaming Netflix –, faria alusão ao mesmo debate de Nin através da fala de um de seus personagens ficcionais, Bai Yan, onde esse, imbuído de ensinar diferentes estilos de combate ao personagem Polo, de Fusco, descreveria Kung Fu enquanto “uma estranha palavra” que, em uma noção mais acurada, significaria “habilidade suprema através do trabalho duro”. Mas como, a partir dessa percepção sobre o Kung Fu, poderíamos entender o que se chama de “Eficácia Chinesa”? De acordo com o filósofo e sinologista francês François Julien, uma das grandes dificuldades dos ocidentais seria a de compreenderem que a eficácia, para os chineses, não parte de uma relação dual entre teoria e prática, ou de algum tipo de enfrentamento heroico – como uma epopeia grega –, ou resultado de um planejamento prévio frente a um conflito a ser solucionado, mas do princípio de adaptabilidade dos indivíduos, ou grupos, ao potencial de mutação existente em cada circunstância. Tendo como referência o debate conceitual em torno da noção naturalizada de Kung Fu, para a sociedade chinesa, é que o presente trabalho procura analisar como essa referida sociedade estruturou suas distintas tradições em torno de sua própria noção de eficácia, que em muito difere da compreensão construída, desse mesmo conceito, no ocidente.

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