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Imagem, deslocamento e resistência: a fotografia como campo de tensão e transformação
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Palavras-chave

Revista Visuais
Artes Visuais
Fotografia
História
Política
Afeto

Como Citar

TACCA, Fernando Cury de. Imagem, deslocamento e resistência: a fotografia como campo de tensão e transformação. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 1–5, 2025. DOI: 10.20396/visuais.v11i1.20669. Disponível em: https://econtents.sbu.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20669. Acesso em: 25 out. 2025.

Resumo

A fotografia nunca foi apenas um registro passivo da realidade. Ela é um campo de disputas, deslocamentos e reinvenções, onde se cruzam história, arte, política e afeto. Os portfólios e artigos publicados nesta edição revelam como a imagem fotográfica transcende sua materialidade para se tornar um dispositivo crítico, capaz de questionar narrativas hegemônicas, subverter tradições e reconfigurar nossa relação com o tempo, a memória e o espaço. Assim, nesta edição, Antonio Anson nos convida a refletir sobre o deslocamento como eixo central para entender a transformação das imagens. Quando a visualidade renuncia à narração linear, surgem as vanguardas, substituindo a história pelo discurso — um gesto que a arte conceitual radicaliza, convertendo o objeto em palavra, a matéria em ideia. Esse movimento não anula a imagem, mas a tensiona, exigindo do espectador uma postura ativa, capaz de decifrar camadas de significado para além do visível. Assim, necessariamente uma arte de ver desloca o olhar e o eixo do visualizador, colocando-o também como lugar do conceito. Já Wagner Souza e Silva nos lembra que a fotografia é, antes de tudo, vibração. Ao aproximar luz e som, ele revela sua natureza performática, especialmente no contexto digital, onde as imagens pulsam em telas, ressoando como composições afetivas. Essa perspectiva nos faz questionar: a fotografia não seria também uma partitura, uma escrita de frequências e silêncios? Em contraste com a abstração conceitual, Aline Gomes nos apresenta o trabalho de Alair Gomes, cujos retratos eróticos e colaborativos de jovens europeus reinventam a tradição clássica. Seu olhar flâneur captura não apenas corpos, mas desejos e cumplicidades, transformando a rua em palco de uma intimidade construída. Aqui, a fotografia é encontro, um jogo de sedução entre quem fotografa e quem é fotografado. Sofia Borges radicaliza essa discussão ao fotografar fotografias, desestabilizando a noção de originalidade. Seu trabalho opera como uma rapsódia visual, onde fragmentos se recombinam em novas narrativas, questionando a própria história da arte. Ao evocar "Sons de Mármore", ela nos confronta com o inaudível — o silêncio das esculturas clássicas, agora ressignificadas pela lente. Nesse mesmo espírito de intervenção, minha “contribuição” para a exposição Corps à corps no Centre Pompidou (Paris) propõe um rinoceronte digital como protesto contra o eurocentrismo das coleções museológicas. A fábula aqui é um chamado à desobediência: a arte deve invadir, perturbar, questionar os cânones. Paula Cabral, por sua vez, enterra fotografias para explorar o Unheimliche freudiano — o estranhamento do que um dia foi familiar. Seus "antirretratos" são vestígios de identidades em decomposição e afetos líquidos, metáforas potentes para as migrações e desenraizamentos contemporâneos. Fábio Gátti retoma Barthes e sua busca pela mãe perdida na fotografia, lembrando-nos de que a imagem é também luto e Τύχη (acaso). O isso-foi barthesiano não é apenas um índice do real, mas um gesto de resistência contra o esquecimento. Por fim, Isis Gasparini e Ronaldo Entler interrogam a flânerie no século XXI: ainda é possível vagar contemplativamente em cidades aceleradas? Revelam um esforço metódico para resistir à inércia urbana, mesmo quando o espaço já não permite a deriva poética de Baudelaire. Ao final colocam em cena a diferenciação do olhar feminino no processo da flânerie como uma questão de gênero e afirmação feminista. Se há um fio condutor nesses trabalhos, é a fotografia como ato político. Seja pelo deslocamento, pela vibração, pelo protesto ou pelo luto. A partir da intervenção, ela nos força a repensar não apenas o que vemos, mas como olhamos. Em um mundo saturado de imagens, talvez sua maior potência seja justamente a de nos fazer desacelerar, questionar e, sobretudo, sentir.

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Referências

GOMES, Aline Ferreira. Alair Gomes em trânsito: a construção do retrato masculino na Europa. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 6–30, [s.d.]. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20656. Acesso em: 29 jun. 2025.

SOUZA E SILVA, Wagner. As tonalidades afetivas da fotografia. : Afinidades e (des)afinações entre luz e som na imagem técnica. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 31–44, [s.d.]. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20651. Acesso em: 29 jun. 2025.

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GATTI, Fábio. Barthes entre o luto e a Τύχη: A fotografia, o real e a imagem insistente. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 56–80, [s.d.]. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20653. Acesso em: 29 jun. 2025.

CURY DE TACCA, Fernando. A fábula do pequeno Sultão. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 81–90, [s.d.]. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20649. Acesso em: 29 jun. 2025.

ENTLER, Ronaldo; GASPARINI, Isis. O flâneur em crise. : Imagens arbitrárias em uma paisagem inapreensível. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 91–103, [s.d.]. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20652. Acesso em: 29 jun. 2025.

DOLENC CABRAL TACCA , Paula Cristina. Das Unheimliche. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 104–116, [s.d.]. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20655. Acesso em: 29 jun. 2025.

BORGES, Sofia. Rapsódia do Apagamento: Uma dança na caverna. Revista Visuais, Campinas, SP, v. 11, n. 1, p. 117–144, [s.d.]. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/visuais/article/view/20658. Acesso em: 29 jun. 2025.

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