Resumo
A economia brasileira chegou ao início dos anos 1980, após 30 anos de intensa industrialização e modernização de pautas de consumo, com a fisionomia de uma “economia de baixos salários”, caracterizada por um amplo descolamento entre os níveis de progresso técnico e padrões de consumo, de um lado, e as condições de remuneração e consumo da maioria dos assalariados, de outro. Esse “desencontro” não se confunde com a existência de salários baixos dispersos em atividades de baixa produtividade. Trata-se, antes, de característica decorrente do padrão de crescimento econômico, do perfil das instituições e dos mecanismos de formação de preços forjados durante o período de industrialização no Brasil. Baixos salários, rápido crescimento e modernização do consumo não são, porém, particularidades brasileiras ou do desenvolvimento latino-americano. Itália e Espanha são exemplos de países europeus que também passaram por “milagres econômicos”, modernizaram hábitos de consumo e produziram mercados de trabalho com traços semelhantes ao brasileiro. Nesse sentido, o objetivo do artigo é apresentar um breve estudo comparativo de regimes salariais em capitalismos tardios, buscando ressaltar a segmentação do mercado de trabalho, a influência do excedente de mão de obra e a faceta política da determinação dos salários, da distribuição de renda e da capacidade de consumo.A economia brasileira chegou ao início dos anos 1980, após 30 anos de intensa industrialização e modernização de pautas de consumo, com a fisionomia de uma “economia de baixos salários”, caracterizada por um amplo descolamento entre os níveis de progresso técnico e padrões de consumo, de um lado, e as condições de remuneração e consumo da maioria dos assalariados, de outro. Esse “desencontro” não se confunde com a existência de salários baixos dispersos em atividades de baixa produtividade. Trata-se, antes, de característica decorrente do padrão de crescimento econômico, do perfil das instituições e dos mecanismos de formação de preços forjados durante o período de industrialização no Brasil. Baixos salários, rápido crescimento e modernização do consumo não são, porém, particularidades brasileiras ou do desenvolvimento latino-americano. Itália e Espanha são exemplos de países europeus que também passaram por “milagres econômicos”, modernizaram hábitos de consumo e produziram mercados de trabalho com traços semelhantes ao brasileiro. Nesse sentido, o objetivo do artigo é apresentar um breve estudo comparativo de regimes salariais em capitalismos tardios, buscando ressaltar a segmentação do mercado de trabalho, a influência do excedente de mão de obra e a faceta política da determinação dos salários, da distribuição de renda e da capacidade de consumo.
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