O flâneur em crise: imagens arbitrárias em uma paisagem inapreensível

Resumo

Este artigo reflete sobre a relação entre a fotografia e a flânerie, interrogando se as condições que os artistas encontram hoje nas grandes cidades são análogas àquelas que permitiram a Charles Baudelaire, na Paris do século 19, encarnar a figura do flâneur. Toma também a flânerie como referência para delimitar uma série de exclusões que a cidade opera, com relação ao direito de caminhar e olhar. O texto analisa experiências recentes com a fotografia em que o gesto de caminhar e de fotografar seguem instruções rigorosas, definidas previamente pelos artistas. Trazemos a hipótese de que esses trabalhos são sintoma de um ambiente que se torna avesso ao vagar contemplativo da flânerie, seja pela aceleração dos movimentos, seja porque não há mais distâncias suficientes que permitam dar conta da paisagem. Por um lado, o caráter metódico e arbitrário desses experimentos delineia o esfacelamento de qualquer possibilidade de romantização da cidade. Por outro, representa o esforço possível de resistir ao movimento inercial que esse ambiente impõe.