Os desafios de uma crítica não moralista e não romântica do capitalismo

Resumo

O comentário discute O Avesso de Marx (2024), de José Crisóstomo de Souza, obra que reinterpreta o materialismo histórico a partir de uma ontologia social centrada na “práxis sensível”, rejeitando essencialismos e propondo um projeto afirmativo de emancipação. Apesar da contribuição teórica, questiona-se a negligência da crítica marxiana à exploração e ao fetichismo, mecanismos fundamentais para entender a dominação capitalista. Argumenta-se que, ao deslocar a negatividade dialética em favor de uma normatividade exuberante, o autor dilui a análise das contradições materiais — como a subsunção do trabalho e a financeirização —, reproduzindo abstrações que limitam a eficácia política de sua proposta. Conclui-se que a ausência de mediações entre ontologia e crítica concreta fragiliza o potencial emancipatório do projeto, reforçando a urgência de retomar a imanência da crítica marxiana.