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Dossiê "Arte entre ciência e tecnologia: tecendo o presente, imaginando futuros"

É com alegria que o Comitê Editorial da Proa: Revista de Antropologia e Arte convida a todas as pessoas a submeterem artigos, ensaios, resenhas e outros materiais para o Dossiê "Arte entre ciência e tecnologia: tecendo o presente, imaginando futuros", coordenado por Carolina Parreiras (LETEC - USP) e Thais Farias Lassali (UNICAMP). 

Os textos devem ser submetidos normalmente pela plataforma da revista durante o período de abertura da chamada, informando a destinação ao dossiê. As contribuições serão publicadas no Volume 16 da Proa, em 2026.

O prazo para submissões vai de 01/10/2025 a 17/11/2025

 

Em caso de dúvidas, entre em contato: proa@unicamp.br.

 

Apresentação: 

Este Dossiê tem como objetivo abarcar artigos científicos que lidem com as múltiplas interrelações entre arte, ficção, técnica, ciência e tecnologia. A relação entre cada um desses conceitos, evidentemente, não é nova. A história e a antropologia da arte correntemente se debruçam sobre reflexões acerca das técnicas e tecnologias de produção e reprodução de artefatos artísticos, bem como das contingências sociais envolvidas nesses processos. Da mesma forma, as mais variadas formas artísticas refletem não apenas sobre seus modos peculiares de produção, como também sobre o impacto social e cultural da tecnologia e da ciência na vida.
Isso, entretanto, se tornou mais notório na segunda metade do século XX. Em O Manifesto Ciborgue (1985), Donna Haraway utiliza como metáfora o ciborgue, um ser híbrido que poderia ter saído das páginas ou das telas de qualquer livro ou filme de ficção científica. Ao apresentar tal figura, Haraway chama atenção para os efeitos sociais e políticos da captura da vida cotidiana pela ciência e pela tecnologia ocidentais (coloniais e imperialistas), em que as fronteiras entre humano e animal, orgânico e maquínico e realidade e ficção tornam-se cada vez mais fluidas. A autora argumenta que, no final do século XX, estava em curso uma passagem entre os modos de dominação tradicionais, aqueles baseados nas rígidas hierarquias imperialistas (natureza/cultura, mente/corpo, etc), para um sistema de dominação mais atinado com o pensamento informacional, trazendo à baila formas particulares de poder.
Desse modo, as mais diversas esferas da vida humana, as artes e as indústrias culturais incluídas, são não apenas impactadas, como modificadas, por essa mudança guinada especialmente pela produção de conhecimento científico e pelo investimento tecnológico. Nesse contexto, passagens que antes pareciam ser meramente uma especulação ficcional saída dos mais obscuros filmes B de ficção científica começaram a se tornar, paulatinamente, mais cotidianos. Humanos (de países específicos) passaram a embarcar em viagens espaciais. Outros (com condições específicas) passaram, com sucesso, por transplantes de órgãos. Novos métodos de manutenção da vida humana em situações adversas foram inventados. Mamíferos puderam ser clonados pela primeira vez. Ao mesmo tempo, formas cada vez mais complexas de extermínio surgiram: tecnologias nucleares, sistemas de geolocalização e de teleguiamento de bombas, ameaças biológicas feitas em laboratório, monitoramentos matemáticos de vigilância constante.
Inúmeros artistas plásticos e performáticos se apoderaram de processos computacionais e digitais, da computação gráfica, dos videogames e da robótica para produzirem obras que refletissem sobre esse novo contexto social, especialmente de um ponto de vista crítico, informado por debates feministas e afrofuturistas. Da mesma forma, artistas conceituais, como Eduardo Kac, invadiram os laboratórios científicos para utilizar materiais orgânicos, organismos vivos e processos biológicos para produzir uma arte que não apenas utilizasse tais matérias como um insumo artístico, mas também como parte central de suas obras (bioarte). Até mesmo as grandes indústrias de entretenimento abarcaram, ao seu modo, os debates entre ficção e ciência: a partir da década de 1980, a ficção científica, junto da aventura e da fantasia, passa a ser um dos gêneros mais populares (por consequência mais produzidos - ou seria o contrário?) de Hollywood.
Hoje, quase quarenta anos depois da publicação da obra de Haraway referida anteriormente, a relação entre os sujeitos, a sociedade e as tecnologias ganhou ainda mais entrecruzamentos e tensionamentos. O surgimento e a popularização de novas tecnologias de comunicação e de mídia, como o computador pessoal, a internet e o smartphone, possibilitaram um acesso cada vez mais corriqueiro a ambientes digitais. De tal modo que se torna paulatinamente mais difícil - ou ainda, impossível - separar tais espaços não apenas da própria vida cotidiana, como também das produções midiáticas e artísticas, bem como da criação, da circulação e do consumo das mesmas.