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O que não pode ser elaborado do corpo feminino retorna sob a forma da prostituição?
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Palavras-chave

Prostituição
Psicanálise
Gênero
Sexualidade feminina
Putafeminismo

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Como Citar

OLIVEIRA, Christiana Paiva de. O que não pode ser elaborado do corpo feminino retorna sob a forma da prostituição?. Proa: Revista de Antropologia e Arte, Campinas, SP, v. 15, n. 00, p. e025020, 2025. DOI: 10.20396/proa.v15i00.20020. Disponível em: https://econtents.sbu.unicamp.br/inpec/index.php/proa/article/view/20020. Acesso em: 7 dez. 2025.

Resumo

O artigo analisa a prostituição feminina sob uma perspectiva psicanalítica, histórica e social, articulando gênero, sexualidade e estigma. A pesquisa, vinculada a um doutorado em andamento na USP, baseia-se em entrevistas com sete mulheres cis e trans que atuam na prostituição, discutindo suas narrativas à luz de autoras putafeministas, como Monique Prada e Melissa Gira Grant, e de referenciais psicanalíticos freudianos e contemporâneos. O estudo evidencia como a sociedade constrói a cisão do feminino, reduzindo a mulher ao binarismo virgem/puta, e como o corpo feminino, historicamente controlado pelo patriarcado e pela moralidade cristã, retorna como ato subversivo através da prostituição. Observa-se que a estigmatização dessa atividade revela a dificuldade social de elaborar a sexualidade feminina, frequentemente reprimida e transformada em objeto de violência simbólica e concreta. As falas das entrevistadas demonstram contradições entre desejo, moralidade e poder, expondo o papel da prostituição como espaço de resistência e de sustentação paradoxal da instituição do casamento. Conclui-se que discutir prostituição é essencial para desnaturalizar estigmas, repensar valores sociais sobre a sexualidade da mulher e evidenciar o retorno do recalcado no social, na medida em que “o que não pode ser elaborado do corpo feminino retorna sob a forma da prostituição”.

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