Resumo
O objetivo dessa série de desenhos é celebrar a memória de mulheres poderosas e influentes que foram em seu tempo percebidas como putas por sua conduta sexual. Algumas o fizeram por vontade própria e defenderam a dignidade dessa prática, outras o fizeram coagidas sob brutal violência e fizeram o possível para se libertar de uma condição humilhante. Independente da avaliação moral que tivermos dessa dimensão de suas vidas todas deixaram uma marca indelével na história. Celebrando a puta memória de suas vidas, espero contribuir para a desestigmatização dessas mulheres e de outras que certamente as leitoras poderão acrescentar a essa galeria. Muitas vezes o estigma da mulher prostituída e a ignorância a respeito de sua experiência concreta causa mais danos do que as eventuais violações sofridas no exercício do trabalho sexual. Enquanto a historiografia machista vê a puta como uma mulher que se perdeu, essas putas mulheres provaram que uma puta pode virar muitas coisas: atriz de cinema, marquesa, rainha, intérprete, estrategista militar, vice-presidenta, filantropa, santa ou apenas puta, com muito orgulho e nenhuma hipocrisia.
Referências
ARENDT, Hannah. Homens em tempos sombrios. São Paulo: Cia das Letras, 2019 (1968).
BARRETO, Lourdes et al. Lourdes Barreto: puta autobiografia. São Paulo: Editora Claraboia, 2023.
DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo: Perspectiva, 2020 (1966).
GREGORI, Maria Filomena. Prazeres perigosos: erotismo, gêneros e limites da sexualidade. São Paulo: Cia das Letras, 2016.
KAAS, Hailey. O que é cissexismo? Transfeminismo, 2012. Disponível em https://transfeminismo.com/o-que-e-cissexismo/. Acesso em: 20 set. 2025.
LEITE, Gabriela. Filha, mãe, avó e puta: a história de uma mulher que decidiu ser prostituta. São Paulo: Editora Objetiva, 2008.
LOPES, Natânia. Cabaré. São Paulo: Urutau, 2023a.
LOPES, Natânia. Atuar ou não como prostituta: programa, etnografia, putativismo. Campinas: Ofícios Terrestres Edições, 2023b.
LOPES, Natânia et al. Puta livro. Rio de Janeiro: Coletivo Puta Davida (apoio FAPERJ), 2022.
MEDEIROS, Fátima. Puta história. Campinas: Ofícios Terrestres Edições, 2024.
MOIRA, Amara. E se eu fosse puta? São Paulo: Hoo Editora, 2016.
OLIVAR, José Miguel Olivar. Devir puta: políticas da prostituição nas experiências de quatro mulheres militantes. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
OLIVEIRA, Maria Isabel Zanzotti de. Nas margens do corpo, da cidade e do Estado: educação, saúde e violência contra travestis. 2015. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2015.
PATRIARCA, Letizia. As corajosas: etnografando experiências travestis na prostituição. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2015.
PERLONGHER, Nestor. O negócio do michê: prostituição viril em São Paulo. São Paulo: Perseu Abramo, 2008 (1987).
PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura. Goiânia, v. 11, n. 2, p. 263-274, 2008. DOI: 10.5216/sec.v11i2.5247. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fcs/article/view/5247. Acesso em: 7 out. 2025.
PRADA, Monique. Putafeminista. São Paulo: Veneta. 2018.
RUBIN, Gayle. Políticas do sexo. São Paulo, 2017 (1975, 1984).
VANCE, Carole S. Pleasure and danger: toward a politics of sexuality. In: VANCE, Carole S. (ed). Pleasure and danger: exploring female sexuality. Boston: Routledge & Kegan Paul, 1984.
YOURCENAR, Marguerite. Memórias de Adriano. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1994 (1951).
ZAMBONI, Márcio. O barraco das monas na cadeia dos coisas: notas etnográficas sobre a diversidade sexual e de gênero no sistema penitenciário. Aracê, [S. I.], v. 4, n. 5, p. 93-115, 2017. Acesso em: 7 out 2025.
ZAMBONI, Márcio. A população LGBT privada de liberdade: sujeitos, direitos e políticas em disputa. Tese (Doutorado em Antropologia Social), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2020.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Marcio Zamboni, Natânia Lopes
