Resumo
Com dados etnográficos junto ao perfil do Facebook de mulheres brasileiras negras antirracistas e a favor da valorização da negritude, e com o auxílio de enquadramentos conceituais de base semiótica, este artigo demonstra que as participantes do estudo constroem uma narrativa onde o racismo e o eurocentrismo provocam nas mulheres negras um sentimento de vergonha pelos traços diacríticos da “raça” negra, resultando em rejeição, abandono e ocultamento de tais traços no intuito de evitar preconceito e discriminação. Porém, essas mulheres buscam uma nova narrativa, ao mostrarem que no passado antes da colonização, as pessoas negras eram poderosas e livres inclusive para manipular o corpo conforme seus próprios modelos de beleza, sem ter de se submeter ao padrão corporal branco e europeu. Tal idealização acerca dos negros da África pré-colonização passa a provocar orgulho nas mulheres negras em relação aos traços diacríticos da “raça” negra. Tal orgulho pelo corpo negro se manifesta no vestuário dessas mulheres, as quais passam a adotar, manter e expor os traços do corpo negro representados em roupas e acessórios, a saber: brincos com referência ao corpo negro; flores no cabelo cacheado e no cabelo crespo; e desenhos de corpos negros estampados em roupas. Com esse vestuário, elas provocam a construção de uma imagem positiva de si mesmas aos seus próprios olhos e aos olhos dos outros, e o recebimento de elogios e outras reações positivas.
Referências
BATISTA, Isaac Matheus Santos Batista. O Negro Herói e seu traje: sentidos do consumo de vestuário pelo Movimento da Negritude na contemporaneidade. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-graduação em Consumo, Cotidiano e Desenvolvimento Social, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2019.
CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo. São Paulo: UNESP, 1998.
FIORIN, José Luiz. Elementos de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2013.
HARKOT-DE-LA-TAILLE, Elizabeth; DE LA TAILLE, Yves. A construção ética e moral de si mesmo. In: SOUZA, Maria (Org.). Os sentidos de construção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
KOZINETS, Robert V. Netnography: doing ethnographic research online. Londres: SAGE, 2010.
OLIVEIRA, Roseli. Dicionário de eufemismos. Foz do Iguaçu: Editares, 2015.
URIARTE, Urpi Montoya. O que é fazer etnografia para os antropólogos. Ponto Urbe, v. 11, 2012.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Isaac Matheus Santos Batista
