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Plataformização do trabalho e racismo algorítmico: o capitalismo racial na era do trabalho por plataformas digitais
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Palavras-chave

Plataformização do trabalho
Colonialidade
Racismo algorítmico

Como Citar

CARVALHO, Mônica Gurjão; MELO, Renan. Plataformização do trabalho e racismo algorítmico: o capitalismo racial na era do trabalho por plataformas digitais. Tematicas, Campinas, SP, v. 33, n. 65, p. 17–50, 2025. DOI: 10.20396/tematicas.v33i65.19934. Disponível em: https://econtents.sbu.unicamp.br/inpec/index.php/tematicas/article/view/19934. Acesso em: 26 out. 2025.

Resumo

No contexto da reestruturação produtiva do capital, o mundo do trabalho tem passado por diversas transformações, dentre estas, a plataformização do trabalho. Trata-se de um fenômeno complexo que ultrapassa o uso de plataformas, sendo um campo de interação econômico, social, político e tecnológico, com múltiplas repercussões. Frente a este cenário o desafio é reconhecer que, se por um lado as plataformas já se apresentam como inegáveis estruturas de trabalho, não podemos mistificá-las encobrindo os processos sociais envolvidos. Ao não mistificar, podemos reconhecer que tem significado a exploração e subordinação de uma gama de trabalhadores que passam a ser utilizados por grandes corporações que exploram, principalmente, camadas historicamente marginalizadas socialmente – negros e jovens periféricos. O processo de plataformização ancora-se na operação algorítmica, que, apesar de ser apresentada como imparcial ou neutra, cuida-se de uma ampliação do ferramental do racismo estrutural. Este artigo objetiva discutir como funciona o racismo algorítmico operante nas plataformas de trabalho, evidenciando os impactos materiais e subjetivos gerados. Para tal, relaciona estes aspectos ao capitalismo subordinado e dependente que se instala no Brasil. Nesta análise também propõem fomentar uma crítica à noção de empreendedor, demonstrando como a lógica do empreendedorismo obscurece a relação capital x trabalho. Conclui-se a existência de uma evidente relação entre plataformização do trabalho e passado colonial. Destacamos que a plataformização do trabalho acelerou a fragilização das relações trabalhistas e a negação da centralidade do trabalho enquanto elemento fundante do humano e essencial ao combate à desigualdade social, tornando-se urgente o enfrentamento da questão.

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