Resumo
O presente artigo tem como objetivo pensar a embriaguez no contexto multiétnico da Terra Indígena Rio Guaporé como um dispositivo que, simultaneamente, impede a unificação ontológica dos mundos, isto é, se opõem a uma perspectiva unitária do mundo e dos entes, ao mesmo tempo que impede uma unificação política, ou seja, é o contra o Estado. A partir de uma etnografia com os Makurap, povo de língua Tupi-Tupari que habita a margem direita do rio Guaporé, tentamos pensar a ação política desses povos quando, na ocasião do Acampamento Terra Livre de 2024, um grupo de mulheres indígenas de Rondônia cantou uma canção sobre embriaguez na frente da esplanada dos ministérios em Brasília. Tal ato, argumento, estaria relacionado a uma inimização dos brancos, que implicaria numa forma distinta da nossa de “fazer política”, que tem na brincadeira e na guerra seus motores centrais.
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